Uma mente inquieta, o livro

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Não tenho a certeza, mas acho que a sugestão de ler este livro veio do blog da Bia Ribeiro. Vou escrever sobre o livro na visão de alguém que é fora da área de psicologia ou psiquiatria, mas o livro está ao alcance da compreensão de todos, uma leitura que flui facilmente.

O livro relata a experiência de como uma profissional de saúde, que se dedica à pesquisa e ao tratamento do transtorno bipolar, lida com esse mesmo transtorno como paciente. A história de vida de Kay Redfield Jamison.

Na adolescência esteve gravemente deprimida, depois presa sem trégua aos ciclos da doença maníaco-depressiva quando começou sua vida profissional. Tornou-se uma estudiosa das alternâncias do humor. Durante os dez primeiros anos não procurou nenhum tipo de tratamento. Quando iniciou a medicação percebeu que esta não só interrompia os períodos velozes, de vôos altos; mas também ela trazia consigo efeitos colaterais aparentemente intoleráveis. No entanto, a doença deformava o seu estado de humor e os pensamentos.

Ela relata a experiência, após 3 meses de ter se tornado professora universitária, de estar descontroladamente psicótica. Acordou um dia e estava louca. A sua relutância tinha origem numa negação fundamental de que o que ela tinha era uma doença de verdade. Uma reação comum, que segundo ela, surge de uma forma bastante contrária à intuição. E o não buscar ajuda vinha do que lhe tinham ensinado sobre aguentar o tranco, sobre a auto confiança e sobre não atrapalhar os outros com nossos problemas.

A doença maníaco-depressiva é uma doença médica, assim a autora acredita que, com raras exceções, é negligência tratar essa enfermidade sem uso de medicação. No entanto, ela temia que ao tomar a medicação estaria arriscando seu último recurso.

Ela perguntava-se sobre o sentido de seguir em frente, se não podia sentir, se não podia se mexer e se não conseguia se importar. Mesmo assim, sentia-se que ela tinha consciência de que a doença tanto mata quanto dá a vida. E, assim ela contribuiu para dar ênfase ao uso combinado de medicações e psicoterapia, em vez do uso exclusivo de medicações, salientando a importância da informação sobre as doenças e seus tratamentos aos pacientes e suas famílias, bem como ajudar a mudar as atitudes públicas.

Em seu ambiente de trabalho, a maioria dos seus colegas eram do sexo masculino, e mesmo que fossem imparcial e solidários, havia alguns homens cujas opiniões sobre as mulheres eram de um tipo que se precisava ver para crer.

Apesar das dificuldades que a doença lhe trazia, ela não deixou de viver a vida e de amar. Perdeu precocemente um grande amor. Foi quando percebeu que não só a vida, mas também o amor é extremamente complicado, mais do que lhe ensinaram.

No livro, ela descreve sobre a linguagem e expressões utilizadas para descrever a doença mental, e que fere os sentimentos e os direitos dos que sofrem. Por vezes, expressões humorísticas que fazem perpetuar uma falta de amor próprio e uma auto-estigmatização. A lembrança do preconceito e da falta de sensibilidade permanece por muito tempo. Por isso, permitir que esse tipo de linguagem passe sem correção ou sem controle contribui de modo direto e indireto para a discriminação na sociedade em geral.

Não só a linguagem popular para descrever alguém com uma doença mental, mas também a própria confusão quanto ao uso do termo mais popular “transtorno bipolar” em lugar do termo histórico “doença maníaco-depressiva”, vem ao debate. Sendo a palavra “bipolar” revelada como insultuosa de uma forma estranha e intensa, pois obscurece e minimiza a doença. Enquanto, a utilização de “maníaco-depressiva” é capaz de captar a natureza e a seriedade da doença sem encobrir a realidade. Mas “transtorno bipolar” é menos estigmatizante do que “doença maníaco-depressiva”, assim percebi.

Havia o desejo de ser mãe e foi dramático quando um colega disse-lhe que sendo uma doença genética, o melhor era não pôr no mundo mais um maníaco-depressivo. Para ela, não ter os seus próprios filhos é a única tristeza intolerável em sua vida.

A ciência é a esperança. Hoje, através de uma tomografia do cérebro, é possível ver que um cérebro deprimido aparece com cores frias, verde-garrafa, roxo-escuro e azuis profundos, da inatividade cerebral. Com hipomania, o cérebro tem cores brilhantes, laranja, amarelo e vermelho.

O livro não é apenas sobre a doença maníaco-depressiva, também é sobre o amor, que foi apoio, renovação e proteção. A depressão prolongada esgota os relacionamentos através da suspeita, da falta de confiança e de amor próprio, da incapacidade de aproveitar a vida, de caminhar, conversar ou raciocinar normalmente, da exaustão, dos terrores noturnos, dos terrores diurnos. Para a autora, não há nada de bom para dizer da depressão, a não ser que ela dá a experiência de como deve ser a velhice, “ser velho e doente, estar à morte, ter a mente lerda”, pois ela é neutra, oca, cansativa e insuportável.

Um livro sobre uma experiência única de vida. E, assim foi mais um livro lido na minha vida.

Até ao próximo post! 😉