O Homem Que Escutava As Abelhas, o livro

Este é o primeiro livro que leio da escritora inglesa Christy Lefteri. O Apicultor de Alepo (POR) ou O Homem Que Escutava As Abelhas (BRA) narra a história imaginária de Nuri (apicultor) e sua esposa Afra (artista) durante a recente Guerra Civil na Síria. Uma busca que pela sobrevivência que os leva de Alepo para Grécia na tentativa de chegar à Inglaterra.

A escritora sendo filha de refugiados cipriotas durante a invasão turca a Chipre, e também voluntária na ajuda à refugiados que chegavam à Grécia consegue nos conduzir por uma história com beleza apesar de todo o sofrimento à volta.

Foi a experiência vivida por ela no centro de refugiados em Atenas que lhe abriu os olhos, e que a fez perceber que as pessoas queriam lhe contar a história de suas vidas e, principalmente, serem ouvidas. Elas vinham em 2007 em sua maioria da Síria e Afeganistão. Assim, surgiram os seus personagens e as abelhas, sendo estas símbolos de vulnerabilidade, vida e esperança.

Um livro que vale a pena ser lido!

Até ao próximo post!

Clarice Lispector LI

Três pequenos trechos de crônicas para conhecer a escritora brasileira Clarice Lispector.

Conversa descontraída: 1972

“A gradual escuridão me amedronta um pouco, bico que sou e que toma cautela. Escuridâo? Medo e espanto. O dia morrendo em noite é um grande mistério da Natureza.
O que é Natureza?” …

Divagando sobre tolices
“O óbvio é muito importante: garante certa veracidade.”
“Há o infinito, o infinito não é uma abstração matemática, mas algo que existe.”
Clarice Lispector chegou à conclusão de que Deus é infinito. Nosso inconsciente é infinito. …

Mistério: Céu
“O céu no campo é de um azul-marinho profundo e veem-se como cristais milhares de estrelas. O céu é coisa de louco ou de gênio.
Se nós não nos amarmos estamos perdidos. É melhor nós nos encontrarmos em Deus.”

Agradeço a sua leitura e até ao próximo post!

Clarice Lispector L

Em meu primeiro post do ano de 2022 continuo a trazer a escritora brasileira Clarice Lispector.
Numa série de 6 crônicas, ela conta-nos sobre algumas de suas viagens e planos.

Falando em viagens
Na viagem ao Texas, ela foi participar de oito conferências seguidas de debates. O cônsul brasileiro convidou-a para jantar num restaurante de terceira classe com toalhas quadriculadas de vermelho e preto. Nos Estados Unidos comer carne é caro, o peixe é barato. E o cônsul disse ao garçom para trazer um bife grosso bem sangrento e para ela peixe sendo o restaurante não especialista em peixe. O peixe estava péssimo. 
Ela aproveitou a viagem para comprar muitos brinquedos para o Natal dos filhos.
Foi no Texas que a escritora previu a morte do presidente John Kennedy. Ela disse aos seus familiares qual era a atmosfera omnipotente e sangrenta do Verão no Texas.
Foi lá que conheceu Gregory Rabassa, que traduziu seu livro “A maçã no escuro”. Ele disse-lhe que ela era mais difícil de traduzir do que Guimarães Rosa por causa de sua “sintaxe”. Clarice nunca entendeu porque achava que não tinha sintaxe nenhuma. Clarice esteve também em Argel, Lisboa, Paris e na Polónia.

Estive na Groenlândia…
Em viagem com a amiga Alzira Vargas do Amaral Peixoto à Holanda, que foi batizar o petroleiro Getúlio Vargas, também foram a Paris. E numa viagem de ambas aos Estados Unidos, durante um severo inverno, o avião fez um desvio à meia-noite indo parar na Groenlândia, mas apenas no aeroporto. O frio era imenso. Os groenlandeses eram altos, esguios, loiríssimos.

Já andei de camelo, a esfinge, a dança do ventre
Numa das viagens à Europa, o avião mudou de rota, e a escritora foi inesperadamente passar três dias no Egito. Ela achou as pirâmides menos perigosas de dia. De dia viu o deserto do Saara com suas areias cor de creme. Andou de camelo que achou um bicho estranho que remoía a comida sem parar. Viu a esfinge, mas não  a decifrou, nem a esfinge a ela. Cada uma com seu mistério, disse a escritora.Em Marrocos viu a dança do ventre. A dançarina mexia-se ao dom de “Mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar”.

Estive em Boloma, África
Aconteceu por desvio de rota e Clarice esteve numa região da Guiné-Bissay chamada Boloma. A escritora viu os portugueses tratarem os nativos a chicote. Estes falavam português de Portugal engraçaďíssimo.

As pontes de Londres
Quando a escritora pensava em Londres, revia as suas pontes emocionantes, algumas sólidas e ameaçadoras. Outras puro esqueleto.

Minha próxima e excitante viagem pelo mundo
Quando Clarice partiu para Londres planejou várias viagens. Ir a Paris para ver de novo a Mona Lisa, comprar perfumes e para reclamar com a Maison Carven por não mais fabricar o seu perfume preferido Vert et Blanc. Ir ao teatro. E a Rive Gauche. Voltaria para Londres e de lá seguiria para a amada Roma, depois Florença. Iria à Grécia. Voltar a ver as pirâmides e a Esfinge. A Esfinge que a intrigou. Ver quem devora quem. Tomar banhos de mar em Biarritz.
Voltar a Toledo e a Córdoba. Ir a Israel. Voltar a Lisboa e Cascais. Em Lisboa encontrar sua amiga e poeta, Natércia Freire.
Voltar a Londres, seus teatros e pubs. De lá dar um pulo na Libéria, em Monróvia. Voltar a Nova Iorque de onde retornará ao Brasil. Voltar ao Rio, mas antes ir à Belém do Pará, cidade que a escritora é grata. Já no Rio, ir a Cabo Frio. Ela não via meio de fazer essa viagem sem dinheiro.
Na verdade, esse plano era tudo uma brincadeira como o 1° de abril.

Agradeço a sua leitura e até ao proximo post!