Clarice Lispector XXXII

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Seis crônicas escritas por Clarice Lispector para conhecer a mesma.

 

Viver
A sensação de ser. A sensação de ser o próprio representante da vida e da morte.

Mentir, pensar
O modo certo de dizer as coisas e pensar irritavam a escritora: “o pior de mentir é que cria falsa verdade, se a mentira fosse apenas a negação da verdade, o pior é a mentira criadora.”

O erro dos inteligentes
O erro dos inteligentes é que eles têm os argumentos que provam.

As negociatas
“Depois que descobri em mim mesma como é que se pensa, fazendo comigo mesma negociatas, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros.”

Por discrição
“Deus lhe deu inúmeros pequenos dons que ele não usou nem desenvolveu por receio de ser um homem completo e sem pudor.”

Diálogo do desconhecido
Quando se compreende pouco tem-se um campo virgem, livre de preconceitos. Tudo o que não se sabe é a parte maior e melhor, com ela se compreenderia tudo. Ou seja, tudo o que não se sabe é a verdade.
Até ao próximo post!

Ainda estou aqui, o livro

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“Eu vejo o futuro repetir o passado.” – Cazuza

Eu li “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva, durante a década de 80. O Brasil estava no processo de redemocratização. Vários filhos da terra retornavam a casa. E o livro contava alguns desse momentos do país que foram escondidos.

 


Em “Ainda Estou Aqui“, o escritor conta mais um pouco sobre aquela época e cita nomes que ficaram impunes. E porque ficaram impunes, os seus “fantasmas” ressurgem ameaçando, e se aproveitando da ignorância de muitos que não têm o interesse em conhecer a própria história do país que nasceu, fazendo correr o risco de repetir um triste período. E, se aproveitando também da maldade travestida em nome de uma hipócrita ordem e em nome de um progresso segundo as normas de uma elite que só olha para o seu próprio umbigo.

A dor e a indignação do desaparecimento do pai, o deputado Rubens Beyrodt Paiva, nunca terá fim, apesar do registro de óbito em 23 de fevereiro de 1996, entregue durante o governo FHC, após pressão da Anistia Internacional. Um outro FHC, não o sociólogo e colunista da Folha, nos anos 80.

A certidão foi entregue, mas os motivos pelo qual foi preso, torturado, morto e o corpo, nunca vieram à tona. [ “Choram Marias e Clarices…”.]

O Brasil da ditadura militar e dos seus AI, que hoje ignorantes da história pedem a sua volta, era o país do contrabando, do jogo do bicho que se associava a agentes de repressão, do dinheiro lavado. O crime organizado nasceu. A promiscuidade entre polícia e bandido proliferou. As torturas eram silenciadas ao som de “Jesus Cristo, eu estou aqui…”. A censura rolava. A corrupção e os desvios de dinheiro eram varridas para debaixo do tapete, sem direitos de reclamação ou manifestação. A inflação galopava e um dos presidentes do período militar gostava do cheiro dos cavalos, mas não do povo. A escola pública começou a ser desmantelada, surgia o cartel das escolas privadas.

[“Caía a tarde feito um viaduto e um bêbado, trajando luto, me lembrou Carlitos.”]

[“Nuvens, feito um mata-borrão no céu chupavam manchas torturadas. Que sufoco! Louco, o bêbado de chapéu coco fazia irreverências mil, à noite do Brasil.”]

Todo mundo que era contra a ditadura era “comunista”. Até os não comunistas eram “comunistas” disfarçados, foram doutrinados, sofreram lavagem cerebral. O deputado Rubens Paiva, em 1963, descobria o dinheiro americano recebido por deputados e golpistas para derrubar o governo de João Goulart, Jango. Queima de arquivo legalizada pelo medo de um tal “fantasma” chamado “comunismo”. Tão atual!!! A favela do Pinto na zona Sul carioca foi incendiada. E por quem? 

O livro também é uma homenagem à sua mãe, Eunice Paiva. Conta a sua trajetória de vida, o sofrimento com o Mal de Alzheimer e a sua morte. Como hoje, os índios eram tratados como um estorvo para ambição dos fazendeiros e grileiros aliados ao regime militar, mas Eunice Paiva tornou-se advogada após a morte do marido, e os defendia, quando até o órgão que deveria defendê-los compactuava com os abusos. Tão atual!!!

Canta, Elis! : “Eu sei que uma dor assim pungente não há de ser inutilmente. A esperança dança na corda bamba de sombrinha, e a cada passo dessa linha pode se machucar. Azar, a esperança equilibrista sabe que o show de todo o artista tem que continuar.

Não há de ser! Não há de ser!

Até ao próximo post!

 

 

 

Grândola, vila morena

downloadHoje, 25 de Abril, dia da Revolução dos Cravos em Portugal. Com a esperança que este movimento político e social que depôs o regime ditatorial sirva de inspiração e alerta ao povo brasileiro, porque “O povo é quem mais ordena”.

 

Os versos na voz de José Afonso:

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Até ao próximo post!

Pela trilha da BD “Street Art”, Bruxelas

Seguir pelas ruas cômicas de Bruxelas é um bom tônico para suportar os frequentes dias cinzentos. O tempo resolveu fazer sua graça, e fez-se um lindo dia ensolarado. Na calçada encontro duas perguntas:

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Rue des Bogards
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Rue des Bogards

Na cidade onde há um museu da banda desenhada/história em quadrinhos (post 2015), no país onde as bibliotecas públicas possuem um espaço dedicado ao gênero, onde nasceu o mestre Hergé que criou o Tintim, onde Peyo (Culford) criou Os Smurfs/Os Estrumpfes, … tinha que trazer a magia dos quadrinhos para a rua.

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Itinerário: Rue de La Gouttière, Rue de La Chaufferette, Rue de Bon Secours, Rue de l’ Ecuyer. E há muito mais a ser descoberto!

E as lojas que cultuam esta arte…

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Boulevard Maurice Lemonnier

Ou ainda uma loja do Harry Potter…

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Até ao próximo post!

Lentilhas com especiarias

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A lentilha é uma leguminosa rica em minerais, proteínas e fibras. Sua origem é asiática. Há vários tipos de lentilhas, e várias receitas confeccionadas com esta leguminosa. Trago mais uma delas ao blog, acompanhada com pão Nan, que é típico da Índia.


Lentilhas com especiarias
(3 pes) (site tudo receitas)

1 xícara de lentilhas, 1 colher café de cardamomo em pó / 1 colher de café de curry em pó / 1 colher de café de gengibre em pó / 1 pitada de páprica em pó / 1 cebola branca picada / 2 dentes de alho picados / 2 tomates maduros picados / 30 ml de óleo de girassol / 3 xícaras de caldo de legumes / 1 folha de louro / 1 pitada pimenta do reino / 1 pitada de sal.

  • Refogue no óleo, em fogo baixo, a cebola e o alho até ficar macia. Acrescente a folha de louro e as especiarias e misture tudo.
  • Acrescente os tomates e refogue em fogo baixo, com a  panela tampada, até que se libertem os sucos destes ingredientes.
  • Acrescente as lentilhas, misture com os ingredientes da panela, e cubra com 3 xícaras de caldo de legumes. Tampe e deixe cozinhar em fogo baixo por 1 hora, depois destampe e cozinhe em fogo alto por 20 min, para que o caldo reduza. Corrija o sabor com sal e pimenta. Acompanhar com arroz. Adicionar um pouco de iogurte de soja, se desejar.
  • Acompanhei com pão Nan.

Até ao próximo post!

 

Desastre, Salman Rushdie

images (1)Ainda no livro Cruze Esta Linha, Salman Rushdie escreve sobre o desastre que resultou na morte da princesa Diana. Revelando aquilo que nos transformamos, um público da vida de celebridades. Mortos por uma foto, o que deixa o significado do acontecimento ainda mais triste.

Vivemos também em uma Era da Fama, em que a intensidade de nosso olhar sobre as celebridades transforma os famosos em bens públicos, transformação essa que muitas vezes se mostra tão poderosa a ponto de destruí-los.”  – Salman Rushdie

Love Unlimited foi um grupo feminino que fazia os vocais de apoio para Barry White e sua orquestra. O tema inesquecível Love’s Thema (1973) fez parte da trilha sonora de filmes e telenovela brasileira. Gravada e regravada em várias versões por várias celebridades da música.
Todo o glamour de Love Unlimited

Até ao próximo post!

Como um chefe, o filme

Como um chefe (Comme un chef, 2012) é uma comédia francesa. O filme conta com a estrela Jean Reno no papel de um chef de cozinha tradicional que entra em conflito com o CEO do restaurante que procura inovação.

Esse conflito muda de rumo quando ele conhece o talentoso Jacky Bennot (Michaël Youn), que espera uma chance na vida de mostrar todo o seu conhecimento culinário, sendo ele mesmo um fã do chef Alexandre Lagarde (Jean Reno).

Se você gosta de culinária e comédia, de certeza se divertirá com essa película.

Até ao próximo post!

De moto pela América do Sul, o livro

Eu já tinha visto, por duas vezes, o filme Diários de Motocicleta (2004), que foi baseado no livro “De moto pela América do Sul, Diário de Viagem” do Ernesto Che Guevara. Faltava ler o livro.

guevaraO livro é rico em detalhes sobre esta viagem que transformou a vida do jovem médico Ernesto Guevara. Algumas cenas do filme são melhores explicadas no livro. O filme é um resumo do livro. No livro percebe-se com mais sensibilidade a gradual mudança de um jovem de classe média rica para o revolucionário Che Guevara. Nenhum outro aspecto mais ou menos polêmico de sua vida é abordado no livro.

A viagem foi iniciada com uma moto em Córdoba (Argentina) em dezembro de 1951 com seu amigo Alberto Granado, bioquímico, e terminou em Caracas a 17 de julho de 1952. Era a trilha dos “conquistadores”, mas com propósito diferente.

Ernesto e Alberto fizeram a rota de forma improvisada. Ernesto não queria viajar como se um turista fosse, ele queria compartilhar o sofrimento do povo. Era sonhador e de espírito livre, pensava em buscar as causas da miséria e injustiça social no seu continente.

Os pais do jovem Ernesto Guevara sabiam que a inteligência do filho o fazia capaz de alcançar seus objetivos, e é o que explica ter conseguido realizar tanto em tão pouco tempo.

Num dos vários encontros que as duas vidas paralelas tiveram com o povo, um encontro em especial foi capaz de produzir palavras que fecharam e trancaram o jovem médico dentro delas. E ao retornar à sua Argentina, aquela pessoa de antes que tomou todas as notas que compõem o livro sobre a viagem com o amigo, morreu.

Um trecho do livro, diferente do filme, é a descrição, rica em detalhes, sobre Cuzco (Perú), que foi a capital do Império Inca. Quem for de viagem à Cuzco, vale a pena a leitura das notas que o jovem Ernesto Guevara fez sobre a cidade.

Segue um trailer do filme com direção do brasileiro Walter Salles e produção de Robert Redford…

Até ao próximo post !

A menina Jeanneke Pis

Quem deseja um dia conhecer Bruxelas incluirá em seu plano uma visita ao Manneken Pis, não muito longe da Grand Place. 

A versão feminina da pequena estátua é menos conhecida e visitada, a Jeanneke Pis. Uma atração turística que não carrega uma lenda como o menino.

Só este ano surgiu a possibilidade de seguir pela rua sem saída, Beenhouwersstraat ou Rue des Bouchers, e encontrá-la encaixada numa parede, protegida por uma grade, e instalada numa altura aproximada de um metro. Fui com cautela, pois lembro que quando estive como turista na cidade, em 2010, fui com muita ansiedade para conhecer o Manneken Pis, e ao chegar próximo foi uma pequena decepção. Nunca imaginei que a estátua do garoto mais conhecido da Bélgica tivesse dimensões tão menores do que as fotos faziam imaginar.

E a foto que tirei transpassando a grade que a protegia, também dão a impressão errada de suas reais dimensões.

Está aqui a menina…

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Até ao próximo post!

O Silêncio do Mar, o filme

O Silêncio do Mar (Le silence de la mer, 2004) é uma co-produção franco-belga baseada no livro editado em 1940 com o mesmo título. Disponível no YouTuBe com legenda.

A história de uma paixão/ódio entre um militar alemão e uma jovem francesa, que dá aulas de piano dentro de um cenário de ocupação alemã na França durante a Segunda Guerra Mundial.

Não achei um filme excepcional, mas foi interessante observar a tentativa de diálogo do jovem militar com a jovem francesa e o seu avô, bem como relembrar esse momento da guerra quando um presidente francês era simpatizante da causa nazista.

Marcou-me a frase dita pelo jovem militar alemão apaixonado pela cultura francesa e pela música clássica: “O amor é silencioso, mas temos que saber escutar.”

Até ao próximo post!