Os gatos de Istambul

É verdade que devido a alguns traumas com animais, nunca tive muita aproximação com eles, até mesmo gatos, mas é impossível ir à Istambul e não admirá-los. Eles estão por todos os lados, à solta, ao contrário do que acontece na Bélgica. Em Burgazada, ilha próxima de Istambul, um gato caiu sobre minhas coxas, enquanto eu tentava cochilar num banco de praça. Eu tomei um bom susto, quando senti algo fofo, e ligeiramente morno, despencar sobre mim. Um momento divertido em viagem.

Na Turquia, os gatos são vistos como símbolos de boa sorte, prosperidade e limpeza. Uma das razões pelas quais os gatos ocupam um lugar especial na cultura turca é que eles eram considerados sagrados nos tempos antigos e eram associados à deusa Ártemis, que era associada à lua, à caça e à virgindade.

A ascensão dos gatos em Istambul remonta aos povos que colonizaram a cidade, os otomanos. Os poderosos otomanos adoravam os gatos com base na sua limpeza e na sua capacidade de caçar. Como resultado de sua longa história com gatos, os felinos se tornaram uma parte essencial da cultura turca e da cidade de Istambul.

Há até mesmo placa de trânsito para eles “kedi çikabilir”, algo como “gato pode sair”. E também há abrigos nas ruas para estes felinos.

Não apenas encontrei gatos soltos, outros animais na Turquia parecem se sentir à vontade. Assim foi um cão em Istambul e algumas galinhas estilosas em Burgazada

Agradeço sua leitura e até ao próximo post! 😉

As mesquitas de Istambul

No livro “A Vergonha”, Annie Ernaux escreveu: “A oração é o ato essencial da vida, o remédio individual e universal. É preciso rezar para se tornar uma pessoa melhor, afastar a tentação, passar em matemática, curar as doenças e converter os pecadores.” Eu não sei se os muçulmanos também pensam o mesmo sobre a oração, mas eu considero que as mesquitas de Istambul são locais perfeitos para uma oração.

Logo eu que não gosto muito de entrar em templos, entrei e descansei em tantas mesquitas que já não sabia quantas havia conhecido e nem os seus nomes. Em todas elas encantei-me com seus azulejos e seus vitrais, a harmonia existente entre seus elementos construtivos. Lembrei-me que Platão disse que Deus sempre geometriza. E, senti que se Deus deseja que se construa templos em seu nome, então estas mesquitas devem ser tomadas como modelo.

A beleza interior era magnífica. O seu exterior era grandioso. Infelizmente, o coração e a mente da maioria dos Homens não seguem a mesma harmonia.
Enfim, lá senti estar realmente na casa de Deus. Uma casa aberta a todos, bastava deixar seus sapatos do lado de fora, lá entravam os gatos de rua, crianças brincavam entre si e mulheres ou homens deitavam-se sob o carpete.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

O Museu da Inocência, o livro

O escritor turco Orhan Pamuk, Nobel de literatura 2006, traz-nos uma história de amor em O Museu da Inocência (2008). Na verdade, um amor obsessivo de um homem com trinta e poucos anos, classe rica, por sua jovem prima distante, de classe média.

Em seus 83 capítulos, o escritor leva essa história atravessando as ruas de Istambul, a história política do país no século XX, e sua indústria cinematográfica.

Confesso que me cansei várias vezes ao ler. O amor do personagem masculino era algo sufocante, um sofrimento que durou anos. Senti que sua amada não correspondia na mesma intensidade. Ela vivia em seu pequeno mundo de egoísmo. A idolatração do personagem masculino é só compreendido por quem já amou. Por isso, parei por dias a leitura para sair do mundo da história de Pamuk. Era uma agonia que só poderia terminar com a morte. O personagem principal constrói um museu em tributo à sua amada com a coleta e armazenamento de objetos tomados pelo sofrimento de uma ferida psicológica.

No fim do romance, o escritor caminha para fora daquela bolha, e traz-nos o que considero uma homenagem aos museus de todo o mundo, e também aos colecionadores. Ele passa a descrever com paixão sobre vários museus em diferentes partes deste planeta. Assim, surge o Museu da Inocência.

Foi um prazer chegar até a porta deste museu criado em 2012 pelo escritor Orhan Pamuk com objetos reais para uma história fictícia. Um museu para um romance literário. O trânsito na bela e agitada Istambul não é fácil, e eu cheguei após a hora de fecho. A agenda não permitia uma nova tentativa.

O seu endereço é: Cukurcuma Caddesi, Dalgic Cikmazi, 2 Beyoglu, Istambul 34425 Turquia.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!