Clarice Lispector XLVI

Duas crônicas de Clarice Lispector para o Jornal do Brasil sobre ser um número. Tão atual discussão quando a pandemia ainda está presente e suas vítimas carecem de respeito quando não são apenas um “número”. 

Você é um número 

“Se você não tomar cuidado vira número até para si mesmo.”

Clarice Lispector escreveu que ao nascer a pessoa é classificada com um número, e segue a identidade, o registo civil, a carteira de motorista, a chapa do carro, o contribuinte, o prédio que mora, o telefone, o apartamento, o crediário, a propriedade, a carteira de sócio de um clube, a cadeira de imortal na Academia Brasileira de Letras, etc. Tudo recebe um número.
Então, Clarice disse que ia ter aulas de matemática ou física, saber alguma coisa de cálculo integral.
“É inútil protestar, pois também o protesto será um número”. Ao morrer também recebe um número, e até mesmo na guerra o combatente recebe um número.
Cada um é um, e Deus não é número.
“Vamos amar que amor não tem número. Ou tem?”

Perdão, explicação e mansidão

Devido a crônica acima (Você é um número), Clarice Lispector recebeu uma crítica em forma de carta. Sentiu que desagradou alguém. Ela própria se ofendeu e sabia que havia ofendido outros.
Esclareceu que ninguém é um número porque há o inefável. O amor, a amizade, a simpatia, a esperança, não são números. A vida e a morte são inefáveis, assim como consideração e criatividade. 
Explicou que queria tomar aulas de matemática porque tudo é tão insolúvel. Precisava de soluções.
A carta crítica diz que a escritora vive de palavras e de pensamentos. A matemática não é o essencial, então não devia se preocupar com o número que nada traz para a escritora.

Até ao próximo post!

Vida

“A natureza criou o esquecimento para que nos seja possível suportar o terrível tédio deste minúsculo aquário a que chamamos vida.”

(Um Estranho em Goa, José Eduardo Agualusa, pág. 69 versão epub)

Para refletir, trago esse emocionante encontro entre Marisa Monte e Julieta Venegas, Ilusion.

Até ao próximo post!

Rainha de Katwe, o livro e o filme

Eu já tinha visto o filme no passado e gostei muito, então resolvi ler o livro de Tim Crothers que inspirou o filme da Disney. “A emocionante história da garota que conquistou o mundo do xadrez”.

Ela é real. Essa jovem que enfrentou tantas dificuldades chama-se Phiona Mutesi, nasceu no Uganda e cresceu em um dos piores lugares do planeta, a favela Katwe, em Kampala.

A favela estava quase sempre inundada, e por isso, seus habitantes dormiam em redes suspensas próximas aos telhados. Phiona conheceu o xadrez seguindo seu irmão até perto de uma lixeira. Robert Katende, o professor queria dar um motivo para continuarem a lutar, pois enquanto se estiver vivo não há motivo para não ter esperança. Essa era a principal lição de todos os dias. Os jovens iam para suas aulas e recebiam aquela que muitas vezes era a única refeição do dia. O projeto cresceu graças a ajuda de Andrew Popp Memorial Scholarship

Phiona teve seu primeiro contato com o xadrez aos 9 anos. Aprendeu as movimentações das peças com uma menina de 4 anos. O xadrez é planejar e controlar, fugir dos ataques contra você, pensar na próxima jogada, e essas decisões são diárias na favela. O xadrez é a única coisa que Phiona pode controlar. Ela é uma das poucas heroínas no mundo do esporte ugandense.

Particularmente, gostei mais do filme do que do livro. No entanto, o livro traz mais detalhes sobre a vida difícil no Uganda, bem como surgiu a fundação americana na vida daqueles jovens. Você pode seguir Phiona Mutesi e seu mestre Robert Katende no Instagram, por exemplo.

Segue o trailer do filme.

Até ao próximo post!

Risoto Vegano de Feijão Branco


Navegando pela Internet à procura de algo novo para mim na culinária e que não tivesse carne como um dos ingredientes, cheguei até a esta proposta do site/canal Plantte. Eles chamaram essa proposta de Risoto, mas como não usam vinho, nem manteiga, então eles permitem que chamem de arroz cremoso ou algo do tipo.
Para mim, o que importa é que me surpreendeu pela aparência final e sabor. Você pode acompanhar com brócolis, mas como eu não os tinha, então decorei com folhas de basílico.

  • 2 xícaras de feijão branco cozido
  • 1 colher (sopa) de sumo de limão
  • 2 colheres (sopa) de azeite de oliva, divididas
  • 1/2–1 xícara de caldo de legumes ou de água
  • sal e pimenta do reino a gosto
  • 1 cebola grande, picada
  • 1 colher (sopa) de estragão seco
  • 1–2 xícara(s) de arroz cozido
  • Adicione em um liquidificador o feijão branco cozido, o sumo de limão, 1 colher (sopa) de azeite de oliva, 1/2 xícara de caldo de legumes (ou de água) e sal e pimenta do reino a gosto. Bata até obter um creme liso. Se for necessário, adicione mais caldo de legumes. Prove e ajuste o sal e a pimenta conforme seu paladar. Reserve.
  • Em uma panela, refogue a cebola picada em 1 colher (sopa) de azeite de oliva. Quando estivem translúcidas, adicione o estragão e refogue por mais 1 ou 2 minutos.
  • Adicione o creme de feijão branco na panela junto com a cebola e o estragão e misture bem, em fogo médio. Quando estiver quente, adicione o arroz cozido. Caso seja necessário, adicione mais caldo de legumes ou água para obter a consistência desejada. Corrija o sal e a pimenta conforme seu paladar.
  • Sirva com o acompanhamento de sua preferência. Sobras podem ser armazenadas em um pote fechado na geladeira por até 4 dias.

Até ao próximo post!

Olhar Blasé

O seu olhar lembra-me uma canção de Adriana Calcanhoto. É um “olhar sem sonhos”, um “olhar blasé que não só já viu quase tudo, como acha tudo tão déjà vu mesmo antes de ver”.

Pág 89, versão Epub, Um Estranho em Goa, José Eduardo Agualusa

Já que Agualusa lembrou de uma música de Adriana Calcanhoto, vamos ouvi-la, …

Até ao próximo post!

Clarice Lispector XLV

Alguém se atreve a responder as perguntas de Clarice Lispector?
Vem uma sensação de ansiedade, uma sensação de que vivemos e nada sabemos. Prefiro sentir, seguir adiante e viver o tempo que não sei quanto me cabe.
São estranhas as perguntas sobre Deus vindas de uma pessoa com ascendência judaica. Seria Clarice uma espécie de Spinosa(za) na versão feminina?  Dá o que pensar.

Uma pergunta 
“Gastar a vida é usá-la ou não usá-la? Que é que estou exatamente querendo saber?”

Sou uma pergunta 
“Quem fez a primeira pergunta?
  Quem fez o mundo?
  Se foi Deus, quem fez Deus?
  Por que dois e dois são quatro?
  Quem disse a primeira palavra?
  Quem chorou pela primeira vez?
  Por que o Sol é quente?
  Por que a Lua é fria?
  Por que o pulmão respira?
  Por que se morre?
  Por que se ama?
  Por que se odeia?
  Quem fez a primeira cadeira?
Por que se lava roupa?
  Por que se tem seios?
  Por que se tem leite?
  Por que há o som?
  Por que há o silêncio?
  Por que há o tempo?
  Por que há o espaço?
  Por que há o infinito?
  Por que eu existo?
  Por que você existe?
  Por que há o esperma?
  Por que há o óvulo?
  Por que a pantera tem olhos?
  Por que há o erro?
  Por que se lê?
  Por que há a raiz quadrada?
  Por que há flores?
Por que há o elemento terra?
  Por que a gente quer dormir?
  Por que acendi o cigarro?
  Por que há o elemento fogo?
  Por que há o rio?
  Por que há gravidade?
  Por que e quem inventou os óculos?
  Por que há doenças?
  Por que há saúde?
  Por que faço perguntas?
  Por que não há respostas?
  Por que quem me lê está perplexo?
  Por que a língua sueca é tão macia?
Por que há o elemento terra?
  Por que a gente quer dormir?
  Por que acendi o cigarro?
  Por que há o elemento fogo?
  Por que há o rio?
  Por que há gravidade?
  Por que e quem inventou os óculos?
  Por que há doenças?
  Por que há saúde?
  Por que faço perguntas?
  Por que não há respostas?
  Por que quem me lê está perplexo?
  Por que a língua sueca é tão macia?
Por que fui a um coquetel na casa do Embaixador da Suécia?
  Por que a adida cultural sueca tem como primeiro nome Si?
  Por que estou viva?
  Por que quem me lê está vivo?
  Por que estou com sono?
  Por que se dão prêmios aos homens?
  Por que a mulher quer o homem?
  Por que o homem tem força de querer a mulher?
  Por que há o cálculo integral?
  Por que escrevo?
Por que Cristo morreu na cruz?
  Por que minto?
  Por que digo a verdade?
  Por que existe a galinha?
  Por que existem editoras?
  Por que há o dinheiro?
  Por que pintei um jarro de vidro de preto opaco?
  Por que há o ato sexual?
  Por que procuro as coisas e não encontro?
  Por que existe o anonimato?
  Por que existem os santos?
  Por que se reza?
  Por que se envelhece?
  Por que existe câncer?
Por que as pessoas se reúnem para jantar?
  Por que a língua italiana é tão amorosa?
  Por que a pessoa canta?
  Por que existe a raça negra?
  Por que é que eu não sou negra?
  Por que um homem mata outro?
  Por que neste mesmo instante está nascendo uma criança?
  Por que o judeu é a raça eleita?
  Por que Cristo era judeu?
  Por que meu segundo nome parece duro como um diamante?
Por que hoje é sábado?
  Por que tenho dois filhos?
  Por que eu poderia perguntar indefinidamente por quê?
  Por que o fígado tem gosto de fígado?
  Por que a minha empregada tem um namorado?
  Por que a Parapsicologia é ciência?
  Por que vou estudar Matemática?
  Por que há coisas moles e há coisas duras?
  Por que tenho fome?
  Por que no Nordeste há fome?
Por que uma palavra puxa a outra?
  Por que os políticos fazem discurso?
  Por que a máquina está ficando tão importante?
  Por que tenho de parar de fazer perguntas?
  Por que existe a cor verde-escura?
  Por quê?
  É porquê.
  Mas por que não me disseram antes?
  Por que adeus?
  Por que até o outro sábado?
  Por quê?”

Até ao próximo post!

A vida que ninguém vê, o livro

Este é o segundo livro escrito por Eliane Brum. A jornalista e escritora foi em busca do que não é notícia, e acabou por revelar vidas de personagens encantadores.

A sua sensibilidade alerta que o mundo é salvo todos os dias por pequenos gestos. E é isso que sentimos nas vinte e quatro histórias que ela capturou em cenas corriqueiras. Histórias de vidas reais que vale muito a pena conhecê-las.

Quem consegue olhar para a própria vida com generosidade torna-se capaz de alcançar a vida do outro. Olhar é um exercício cotidiano de resistência.

pág 113, versão Epub

Até ao próximo post!

Experiências culinárias

Não faz muito tempo passei por duas experiências culinárias completamente diferentes, a culinária da Etiópia e a do Havaí. O sabor de ambas mereceu repetir a experiência.

Na culinária havaiana descobri e confeccionei o Salmon Poke Bowl que é apropriado para uma tigela. Um prato com influência japonesa que pode também ser feito com atum ou polvo, mas escolhi o salmão que ficou em marinada com temperos asiáticos. É servido na tigela com arroz japonês (o mesmo do sushi), abacate, cenoura, algas, repolho roxo com maçã e cebolinho.

Na culinária etíope não pode faltar a Injera que é uma espécie de panqueca confeccionada a partir de um grão típico da região. À volta da Injera estão porções de acompanhamentos com carne, vegetais, molho, alguma leguminosa. Come-se com as mãos e em grupo, retirando uma parte de Injera para pegar algum dos acompanhamentos, sendo alguns picantes, mas suportável. Também há uma versão vegetariana.

Até ao próximo post!