Kierkegaard em 90 minutos, o livro

Há uma casa na cidade que vivo, Sint-Niklaas, a qual todas as semanas uma frase é escrita numa folha branca e colocada na janela. Eu não passo mais com frequência por esta janela, mas a última vez que por lá passei estava a imagem abaixo.

Medo é a vertigem da liberdade

Kierkegaard

Chegando em casa fui pesquisar sobre Kierkegaard (1813-1855). Encontrei em uma pequena coleção o tema: Kierkegaard em 90 minutos. O pequeno livro inicia em sua contra capa com as seguintes palavras: “ Kierkegaard não foi um filósofo no sentido acadêmico, mas produziu o que muita gente espera da filosofia. Não escreveu sobre o mundo, escreveu sobre a vida — sobre como vivemos e como escolhemos viver. Seu tema foi o indivíduo e sua existência:  o “ser existente”.”

Até aquele momento, eu era ignorante sobre este filósofo. Meu filho mais novo, que está no último ano do secundário, aqui na Bélgica, viu-me a ler e disse que tinha aprendido sobre este filósofo nas aulas de Moral, e não teve boa impressão dele. Eu tive que rir porque eu também não estava a vê-lo com simpatia. 

Senti que o jovem Kierkegaard viveu num lar austero sobre o comando de seu pai onde a religião era o centro da vida. Kierkegaard chegou mesmo a viver uma experiência espiritual que foi como um terremoto em sua vida.

Ele dizia que “a liberdade nada tem a ver com a filosofia. É uma questão psicológica, que depende de nossa atitude ou estado mental.”

Sua presença física pelas ruas de Copenhaga era motivo de chacota. Andar de caranguejo, calças com pernas de tamanho desigual,… somado ao fim repentino de um noivado com uma jovem da cidade foi a gota final para a sua ridicularização.

Ele defendia o celibato e dizia que “as mulheres são o egoísmo personificado… Toda a história do homem e da mulher é uma enorme intriga construída sutilmente ou um truque calculado para destruir o homem como espírito. “

Eu não estava de leve humor ao terminar de ler essas palavras. Fiquei a relembrar as ruas que conheci de Copenhaga e a imaginar este cidadão caricato a caminhar naquela cidade do séc. XIX e a ser zombado.

Nem tudo é para se discordar de Kierkegaard. Ele escreveu que: “a falsa noção de desespero consciente se dá quando um indivíduo sabe que se desespera, mas imagina que tal não acontece com os outros. (“Ninguém sabe como me sinto.”). Isso  o leva a um desespero ainda maior.”

Enfim, uma figura polémica, caricata, mas que deixou o seu contributo para a filosofia a ponto de lhe ser atribuído o “título” de primeiro filósofo existencialista. E se aquela janela não tivesse chamado a minha atenção, talvez eu não o tivesse conhecido.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

Baú Aberto 28: Desabafo em português

O Baú Aberto é uma categoria do blog para posts sem uma classificação de assunto relativo ao blog. O de hoje é mais um desabafo que coloco no baú.

A semana passada não houve post do Miau do Leão porque eu estive em terras lusitanas. Foi uma estadia vapt-vupt, mas intensa. Farei posts sobre este “passeio”, em breve.

Algo que me chamou a atenção foi a maior presença de estrangeiros em relação a quatro anos atrás quando lá estive. Eu ouvi mais o sotaque brasileiro em Lisboa do que o sotaque local. Eu andei por ruas pensando estar na Índia. E foi nesta mesma “Índia” que eu vi e ouvi uma senhora de cabelos brancos a esbravejar: – Porcos! Porcos! Não compram um caixote de lixo! Antigamente não era assim! Por isso estão tantas doenças! 
Eu olhei para a senhora que estava do outro lado da rua, a subir o bairro da Mouraria, e olhei para o cenário à volta. Tanto ódio saía daquela boca, sua tensão arterial, provavelmente, foi aos 18, e tudo por causa de um ou dois sacos de lixo que não estavam nem pela metade cheios, lacrados, e aparentemente, em boas condições. 

Eu estive numa livraria e ao perguntar por um livro de um escritor português, a resposta foi tão antipática, que perdi a vontade de comprar qualquer livro de autor português. Quebrei um hábito que tenho ao viajar ao Brasil ou Portugal que é comprar um livro de autor local.

Na Avenida da Liberdade perguntei num quiosque se havia um determinado salgado, e recebi mais uma resposta antipática. Desisti de abrir a boca por um bom tempo, infelizmente, porque eu penso que uma viagem sem contato com os nativos fica a faltar qualquer coisa.

Eu acho realmente triste os comportamentos que descrevi acima. Eu vivi 14 anos em Portugal e em 3 regiões diferentes daquele país. Sim, eu sofri discriminação direta e indireta. Na que sofri diretamente respondi relembrando fatos históricos, nas indiretas não me dei ao trabalho de responder, e como tenho um humor “especial” procurei pensar que provavelmente a pessoa estava obstipada, e dei um desconto. Eu não esqueço também que conheci nativos amáveis.

Aqui na Bélgica também há discriminação, mas pelo menos sou apenas mais uma estrangeira, não sofro ao abrir a boca. O meu sotaque passa despercebido.

Hoje, um dos primeiros editoriais que li, trouxe-me a recordação de tudo que escrevi acima, e foi esse editorial que me motivou a escrever esse post. Eu não entendo esse comportamento em alguns portugueses, afinal o povo português é um povo emigrante. E esse meu “não entender” vai de acordo com o que escreveu a chefe de redação do artigo que li pela manhã. E como ela termino o meu post escrevendo o mesmo que ela: “ E veio-me à memória a conhecida frase do revolucionário poeta Fernando Pessoa: “A minha pátria é a língua portuguesa.”

P.S.: Segue o link do editorial:
https://www.contacto.lu/opiniao/importam-se-de-falar-a-minha-lingua-no-meu-pais/7448177.html

Na cidade de Carlos Magno, Aachen

E o dia de aventura na alegre Maastricht (aqui) não estava finalizado. A menos de uma hora está a terra do imperador Carlos Magno, Aachen (Aquisgrana). E por que não uma voltinha por lá? Afinal, o céu azul estava atraente para aventuras. Será que encontrarei algo mais do quem em 2019? (aqui)
Terá sido assim o trono do seu mais ilustre cidadão? Não era confortável, mas não dava para resistir a uma foto. E foi neste momento que admirei a fachada da igreja ortodoxa – Dimitrios Griechische Gemeinde.

Caminhar pelas ruas de Aachen em direção à sua principal atração.

Até reencontrar a Catedral de Aachen onde está o túmulo do imperador. Uma magnífica construção.

E ainda a Fonte de São Vicente (Vinzenzbrunnen).

Na praça acima é possível saborear o típico Aachener Printen, que assemelha-se ao pão de gengibre.

A praça principal da cidade e a prefeitura (Marktplatz am Rathaus) continuam sendo o ponto de encontro para todos que nela vivem ou a visitam.

Eu não podia deixar também de rever a fonte dos bonecos (Puppenbrunnen). Desta vez, foi possível me aproximar e movimentar algumas partes das figuras que compõem a fonte.

Ir em direção ao Elisengarten, um amplo e agradável jardim, e encontrar a fonte prateada, Kreislauf des Geldes. E o pavilhão clássico de 1827, o Elisenbrunnen.

Aproveitei o curto passeio para fazer mais um filme sobre Aachen.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

6 On 6: Viagem Literária

Hoje é dia do projeto fotográfico 6 on 6. O tema deste mês é viagem literária. Livro e viagem são duas coisas que amo, que me deixam feliz e que fazem a minha vida ter sentido. 
Eu poderia descrever várias viagens literárias que fiz. Mas o projeto é fotográfico, então pensei em focar nos livros que tenho nas estantes de casa. Após viver em três países e em sete cidades, alguns livros ficaram pelo caminho, e as viagens acabaram por ficar apenas registradas em minha memória. Fui às estantes, e comecei a retirar livros, quando dei por conta que já tinha selecionado mais de seis, fiz a difícil tarefa de escolher apenas seis. Vamos lá!

Correio Sul, de Antoine Saint-Exupéry

Esta viagem literária foi um presente oferecido por um colega da escola secundária. Abri o livro e me deparei com uma linda dedicatória de amizade. Era o ano de 1983. Eu tinha apenas 15 anos, e o prezado colega escreveu sobre a gratidão por tudo que aprendeu comigo. Muitos anos depois nos encontramos através do Facebook, mas logo nos perdemos novamente.
Interessante ter sido atraída para escolher para o post este primeiro romance do autor que se tornou mundialmente conhecido por ter escrito O Pequeno Príncipe, porque de alguma maneira está ligado a minha vida profissional no presente. 
O francês Saint-Exupéry narra a experiência dos aviadores que desbravaram e implantaram os caminhos do correio aéreo. Assim, ele nos leva desde a América do Sul, passando por Toulouse e Dacar. 

Aparição, de Vergílio Ferreira

Este livro foi lido em 2004, quando eu vivia em Évora, Portugal. Quando cheguei à cidade alguém diise-me: “Évora, ou ama-se ou odeia-se”. Bateu um medo! Foi um livro que me ajudou a buscar o equilíbrio entre estes dois sentimentos opostos, quando eu estava pendendo mais para o segundo sentimento.
A história do prof. Alberto Soares que chega a Évora para lecionar em um liceu. Descreve a cidade como uma cidade católica, branca e luminosa. Dizem que o livro é como um alter-ego do escritor português.

Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, de Paulo Coelho

Eu gostaria de ter escolhido para o post o livro Vida e Morte Severina, de João Cabral de Melo e Neto, por razões sentimentais, mas este deve estar no Brasil ou ficou algures pelo caminho. Então, como eu gostaria de ter no post um autor brasileiro, penso que faria sentido escolher o escritor brasileiro mais traduzido e vendido, Paulo Coelho. Esse livro surgiu numa fase, quando ainda vivia no Brasil, e que eu lia muito Paulo Coelho, efeitos de uma “moda” que passou. Para mim, é o seu melhor livro. Passa-se nos Pirenéus franceses, numa pequena aldeia no meio das montanhas chamada Saint-Savin. A primeira página do romance é uma ilustração de uma fonte desta cidadela, e que eu ainda gostaria de conhecer. Eu já atravessei os Pirenéus em direção a Lourdes, por isso compreendo a magia do cenário que anda os personagens deste romance.

O Abissínio, de Jean-Christophe Rufin

Esta viagem literária aconteceu em 2000.
Um romance histórico do francês Rufin nos leva a uma aventura até Abissínia, atual Etiópia, no tempo de Luís XV, o Rei-Sol. Com este livro fiz uma exótica viagem em terras africanas.

Uma Cana de Pesca para o Meu Avô, de Gao Xingjian

Com este livro viajei até a China em 2012. 
Seis contos fazem parte deste livro, e um deles dá título ao livro. Penso que o autor não merecia o Nobel. Foi um Nobel político como possivelmente tenham sido outros. No entanto, valeu a pena esta viagem literária.

O Perfume, de Patrick Süskind

Este escritor alemão com ligações à região de Provença fez me viajar até o século XVIII através de odores e perfumes em busca do perfeito, do absoluto perfume, e isso em meio a tristes acontecimentos desde o nascimento do personagem principal. Em sua última marcante cena do livro, o autor a escreve tão bem que eu senti como se estivesse no meio daquela multidão, naquela praça de Grasse, e dei uma imensa gargalhada como se estivesse desligada do mundo real. Nunca mais esqueço. Estive de passagem por Grasse (França), a capital mundial do perfume, mas já era tarde e perdi o “banho” de perfume que a prefeitura executava numa praça local. Voltarei, um dia.

Espero que tenham apreciado mais um 6 On 6. Até ao próximo post!

Participam deste ptojeto: Claudia Leonardi – Lunna Guedes – Mariana Gouveia – Obdulio OrtegaRoseli Pedroso

A alegre Maastricht, Holanda

O primeiro passeio do ano que vos levarei comigo será em terras holandesas. Apesar de Maastricht ser conhecida por seu Carnaval, a sua alegria estende-se também ao Verão. Uma cidade, realmente, agradável de se percorrer.

A caminhada começa no Helpoort. Essa muralha do século XIII com suas torres dão as boas vindas aos turistas. Cercada por um amplo parque com lagos é um bom sinal sobre o que Maastricht terá para nos revelar. Então, vamos lá atravessar esta histórica porta…

Essas duas imagens chamaram logo a minha atenção já dentro da muralha:
Uma grande abóbora estava por trás das grades, no quintal, à espera do Hallowen.
Um verso cuja imagem usei anteriormente em outro post.

Em uma espécie de beco, que entrava e saíam turistas, atraiu-me um som num curto momento em que o espaço ficou livre. Valeu a pena seguir aquele som. Encontrei um belo moinho, o De Bisschopsmolen. Não se sabe exatamente a data deste moinho, mas sabe-se que já no século XI era mencionado na História.

A religião sempre presente na história do país deixa sua prova nesta rua, onde uma em frente a outra está uma igreja católica e uma igreja protestante.

Eu não gosto muito de entrar em igrejas, mas entro sempre que sinto que valerá a pena entrar. E não me enganei. A Basílica de Nossa Senhora (Basiliek van Onze Lieve Vrouwe) é uma igreja com magníficos vitrais, e que foi construído entre os séculos XI e XII. À volta da praça que a cerca, a descontração típica de um fim de semana no Verão fervilha em contraste com aqueles que depositam uma vela e fazem preces.

Maastricht tem um rio que a acompanha, o rio que lhe dá nome, Maas. Atravessar a ponte Sint Servaasbrug para admirar a cidade a partir do outro lado. Algumas embarcações navegam pelo rio, enquanto as bicicletas estão estacionadas.

Neste outro lado da cidade foi oportunidade para encontrar um geocaching. Mais um marcado no aplicativo.

Ainda do outro lado encontrei uma bela vitrine com diferentes Vlaaien. Vlaai é um tipo de torta tradicional da região do Limburgo holandês e belga, feitas a partir de uma massa fermentada. Eu já provei, e garanto que é “dos deuses”. Uma tentação que consegui resistir, pois o dia de aventuras estava só a começar. 🙂

Tanto na Holanda como na Bélgica ir comer numa “frituur” é algo comum. As pessoas não se importam de comer em pé, por exemplo. A minha escolha foi friet pulled pork. Vejam a beleza desta apresentação:

Vamos voltar para o outro lado da cidade, para dentro da muralha. Se despedindo da área mais nova de Maastricht.

Chegamos no prédio da prefeitura (Stadhuis). Enquanto admirava a construção a partir da esquina da praça avistei um veículo de city tours que levou-me por instantes a outro continente.

Sempre vi a Holanda na vanguarda dos costumes, e eu poderia citar lugares e situações em que observei isso. Provavelmente, chocaria alguns conterrâneos meus. Eu entrei num desses lugares em Maastricht. Uma bela construção de igreja que se transformou numa livraria com café (Boekhandel Dominicanen). À frente exibia-se uma banda que tocava Bossa Nova. Lá dentro, eu estava como uma criança que não sabia qual brinquedo  escolher, pois eram todos maravilhosos. Assim, eu subia e descia as escadarias, e percorria todas as sessões e todos os seus ângulos.

Voltei para as ruas de Maastricht, e enquanto admirava de longe a torre da Igreja Vermelha, eu vi a banda passar (aqui).

Momento de se despedir da alegre Maastricht seguindo ao lado de sua muralha, e pensando em um dia retornar.

E agora o filme que fiz com outras imagens de Maastricht.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!