Recebi essa prenda da prefeitura da cidade onde vivo por fazer trabalho voluntário. Um simpático funcionário bateu à porta e entregou-me uma carta de agradecimento e esta caixa decorada com uma fita com as cores da cidade (azul e amarelo) e dentro com produtos de comércio justo (fairtrade). Isso tudo é um grande incentivo.
Luís de Camões não parece ter gostado das mulheres de Goa. Sobre as portuguesas que encontrou por aqui escreveu ele, em carta a um amigo: “todas caem de maduras, que não há cabo que lhe tenha os pontos, se lhe quiserem lançar pedaço”. Sobre as indianas escreveu pior: “além de serem de ralé (…) respondem-vos numa linguagem meada de ervilhaca, que trava na garganta do entendimento, a qual vos lança água na fervura da maior quentura do mundo”. Linguagem meada de ervilhaca? Sabendo-se que a ervilhaca é uma trepadeira de confusos e enredados caules compreende-se melhor o violento veneno desta metáfora. O poeta terminou, afinal, cativado por uma escrava negra,“de rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados”. Uma “Pretidão de Amor”, Bárbara de seu nome, cuja beleza inspirou um dos mais extraordinários poemas escritos em língua portuguesa: “Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão, que o siso acompanha; Bem parece estranha, Mas bárbara não”. (pág 99, Um Estranho em Goa, José Eduardo Agualusa, versão epub)
Para este post trago a música Believe da banda portuguesa The Black Mamba com imagens do Norte de Moçambique.
Começa hoje o festival da canção na Holanda. A Holanda foi a última vencedora. Em 2020 não foi possível a realização do evento devido a pandemia. Este ano serão 39 países participantes, que estarão divididos em duas semi-finais. Hoje será dia da participação da Bélgica na primeira semi-final. O país tem boas possibilidades, afinal conta com uma banda de peso, o Hooverphonic. O trio participará com sua melhor formação, e para isso inscreveram uma nova música. E fizeram bem! Eu sou suspeita, pois gosto muito do trio da cidade que vivo. Portugal, infelizmente, vem cantando em inglês. Para mim, é uma pena. Observar que a Itália, a França e Espanha cantarão em seus idiomas respectivos.
O Eurovisão tem perdido algum respeito, na minha opinião. Alguns países apelam no visual, ou em algum tipo de vitimização, em detrimento do que está mesmo em conta num festival de música. Depois o processo de votação nem sempre é justo, permitindo situações em que se vota no “amiguinho”, por exemplo, não estranhe a Grécia dar muitos pontos para o Chipre, e vice-versa. De qualquer maneira, e em tempos de pandemia, sempre é uma possibilidade de distração, de conhecer outros países e suas línguas. Segue o vídeo com um resumo da música que cada participante defenderá. Qual a sua música preferida ?
Até ao próximo post!
P.S.: Penso que será possível acompanhar via YouTuBe.
Inicio um espaço novo no Blog, “citações“. Serão curtos e interessantes trechos que vou lendo, para refletir, discutir, um pouco de tudo. Sempre acompanhado de uma música. No menu “citações” recoloquei outros posts anteriores no mesmo sentido.
“Quando conseguirem que Portugal se transforme sinceramente numa nação europeia o país deixará de existir. Repare: os portugueses construíram a sua identidade por oposição à Europa, ao Reino de Castela, e como estavam encurralados lançaram-se ao mar e vieram ter aqui, fundaram o Brasil, colonizaram África. Ou seja, escolheram não ser europeus.” (Personagem Plácido Domingo no livro Um Estranho em Goa, José Eduardo Agualusa)
Trago a música A velha Europa, do B. Fachada, que é o nome artístico de Bernardo Cruz Fachada. Deixo a letra da canção abaixo do vídeo. Uma doce música com um toque de pureza. E espero o seu comentário sobre a citação e/ou a música.
Quando chegares à velha europa, amor, Tira umas fotos com um bom compositor Se ele te piscar o olho, nem hesites em dizer “doutor, O meu marido queria ser como o senhor” Quando chegares à velha europa em flor Quero que arranjes um amante sedutor Se ele te pedir divórcio, nem hesites em dizer “amor, O meu marido não tem culpa, não, senhor” Quando chegares à velha europa atrás De alguma coisa que afinal não satisfaz Tenta lembrar-te dos carinhos que eu te dei se fores capaz E não me troques por beijinhos de rapaz Quando chegares da velha europa, amor, Eu já terei pintado o quarto de outra cor Para entreter durante a tua longa ausência o meu pavor De me perder sem o teu fio condutor Perguntei ao vento se trazia um cabelinho teu E até ao momento o raio do vento não me respondeu
Nada melhor do que voltar a escrever num dia especial no país que nasci (Brasil) e no país que vivo (Bélgica), o Dia das Mães. A vida continua, e devemos enaltecer quem nos dá o real valor. Eu amo ser mãe de dois maravilhosos rapazes amigos, eu que sou filha de uma mãe amiga e forte, e eu que venho de uma família de mulheres guerreiras da vida… Trago de volta ela que também foi uma mãe especial, a escritora Clarice Lispector.
Os prazeres de uma vida normal
Clarice Lispector que sofria de insónia, conseguiu dormir dez horas. E se perguntou se seria isso vida normal. Ela também experimentou a vida anormal para comer quando fez dieta para perder uns quilos. Comer bem dá até vergonha.
Que nome dar à esperança
Onde a esperança corre, a coisa é atingida. Precisa-se dar outro nome a certo tipo de esperança, pois esperança significa espera. E a esperança é já.
Apenas um cisco no olho
Clarice teve quatro vezes em menos de um ano o olho esquerdo agredido por objetos estranhos: ciscos não identificados, grão de areia e um cílio. Precisou ir ao oftalmologista de plantão. Na última ida perguntou: por que sempre o olho esquerdo? É simples coincidência? O médico respondeu que não. Este era o seu olho diretor, o que vê mais, e o mais sensível, prende o corpo estranho, não o expulsa. Ela ficou pensativa. Será a pessoa que mais vê, a que mais sente e sofre?
Caderno de notas
Nota que estava num caderno de notas antigo e escrita em francês por alguém: “Todos aqueles que fizeram grandes coisas fizeram-nas para sair de uma dificuldade, de um beco sem saída.” Clarice considerou uma verdade.