Clarice Lispector XLVII

Dificuldade de expressão 
A dificuldade de expressar dá uma impressão de cegueira. Então, pede-se um café, que é um ato histérico-libertador.

Ir contra uma maré
Clarice lutou contra a tendência ao devaneio, mas o esforço tirou parte de sua força vital.

Aprender a viver
Ela gostaria de ter escrito um tratado sobre a culpa. A culpa? O erro, o pecado. O mundo passa a não ter refúgio. Se falar não será compreendida. Se entenderem também abaixarão a cabeça culpada. Gostaria de ser como os que entram na igreja, aceitam a penitência e saem mais livres. Melhor é aprender a viver com ela.

Aprendendo a viver
Nesta crônica, Clarice fala do filósofo americano Thoreau que tinha como mensagem: melhore o momento presente.
O filósofo desolava-se ao ver pessoas pouparem em “demasiado” para o futuro. E dizia: Não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você está infeliz agora, tome alguma providência agora. “Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.”
Thoreau também não tinha paciência com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. “É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber.”
E o medo é a causa da ruína dos nossos momentos presentes, e também  as opiniões que temos de nós mesmos. É isso que revela seu destino. Então, menos dureza consigo próprio. Podemos confiar em nós muito mais do que confiamos.
Clarice termina a crônica para o Jornal do Brasil desejando feliz ano novo e diz que a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena.

Até ao próximo post!

O sono

Era noite fechada quando regressei ao meu quarto. Lembrei-me, enquanto me estendia na cama, de uma frase chave do primeiro romance de Chico Buarque, Estorvo: “Sinto que, ao cruzar a cancela, não estarei entrando em nenhum lugar, mas saindo de todos os outros.” Não é isso o sono?

(Um Estranho em Goa, José Eduardo Agualusa pág.52, versão Epub)

E por falar em Chico Buarque trago Tão bom que foi o Natal (1967), que foi uma espécie de jingle para uma imobiliária de São Paulo, mas não deveria ter fim comercial, nem tocar na rádio. No entanto, o acordo não foi respeitado.

Até ao próximo post!

Dentro do segredo, o livro

Estava curiosa por ler algum livro do português José Luís Peixoto, e a impressão foi positiva. Ele conseguiu transformar uma viagem à fechada Coreia do Norte, que é repleta de limitações para um visitante, em um livro que você deseja pacientemente percorrer e saber sua conclusão final.

A ideia inicial do escritor era estar num local onde as pessoas não tivessem a sua aparência. Para ele, é um país que estimula a imaginação por ser um país que esconde muita coisa. Através do livro conhecemos também alguns detalhes do sofrimento que foi a ocupação colonial japonesa. Sendo este o único aspecto que tanto os coreanos do Norte e do Sul estão de acordo.

Segundo o escritor, as palavras de Confúcio explicavam tudo sobre a Coreia do Norte: “Ouço e esqueço. Vejo e lembro. Faço e compreendo.” 

E ele explica mais: “A Coreia do Norte é uma ditadura severa, provavelmente a mais severa do mundo, mas não é comunista. A Coreia do Norte é o último reduto de alguma coisa, muito provavelmente também é o primeiro e único reduto dessa mesma coisa, mas não é estalinista.”

Se viajar é interpretar, então José Luís Peixoto dá sua honesta visão e opinião sobre o que viu e viveu, que pode ser diferente de outra pessoa, e isso é especialmente verdadeiro em se tratando da Coreia do Norte.

Até ao próximo post!

Existência

A existência, toda e qualquer, é uma mera alternância entre a vida e a morte, entre crianças e velhos. Uma sucessão de nascimentos e enterros, os enterros para lembrar da finitude, e os nascimentos para garantir que a natureza se refaz. Onde o tempo obedece não à linha reta da aspiração humana, mas ao círculo de uma sabedoria mais antiga. Um álbum em círculos povoando a linha de uma, de várias vidas entrecruzadas. Casamentos, colheitas, batizados, copos-de-leite, enterros, gaitas, crismas, bicicletas, saudades, veraneios, casamentos, colheitas, batizados, copos-de-leite, enterros… Detalhes corriqueiros. Tão pouco, tudo.

(A vida que ninguém vê, Eliane Brum, versão Epub, pág. 93)

Noiserv é um projeto musical do português David Santos. Ele é a banda de um homem só. A música Today is the same as yesterday, but yesterday is not today ajuda a refletir um pouco mais sobre o que trata a citação deste post.

Até ao próximo post!

Gumbo com camarões

Fui para a cozinha e transportei-me até o Sul dos Estados Unidos, mais precisamente estive na Luisiana. Uma viagem rápida, segura e saborosa. 

Preparei o prato marcante da culinária cajun Louisiana, Gumbo (ou gombo) numa versão com camarões e salsicha polonesa (polaca), que aprendi no programa de culinária da tv belga chamado Dagelijkse Kost do chef Jeroen. O prato é um guisado com vários tipos de carne ou mariscos, que costuma ser acompanhado com arroz branco. A especiaria cajun é referente aos descendentes dos acadianos expulsos do Canadá e que se fixaram na Luisiana com sua própria cultura seja na música popular ou na culinária.

Gumbo com camarões (4 pessoas)

250 g arroz
Um pouco de azeite 
3 salsichas polonesas (polacas)
800 g camarões cinzentos 
2 grandes pitadas de especiaria cajun
Um pouco de óleo de amendoim 
1 cebola
2 dentes de alho esmagados
2 pimentões vermelhos (raspar as cascas)
4 hastes de salsão (aipo)
60 g manteiga
80 g farinha 
800 ml caldo de legumes 
1 pitada de chili 
1 pitada de sal
½ limão verde ou amarelo 
Algumas folhas de salsa

Fazer o arroz.
Leve ao fogo uma panela com azeite. Corte as salsichas em rodelas e frite no óleo bem quente. Em seguida, retire a linguiça frita da panela.
Frite o camarão na mesma panela e tempere com o cajun.
Coloque uma panela com óleo de amendoim no fogo. Pique a cebola e refogue no azeite bem quente.
Retire o camarão da panela e deixe a panela de lado por um tempo. 
Descasque e esmague os dentes de alho. Adicione o alho à cebola cozida.
Corte os pimentões em cubos e corte o salsão em pedaços.  Deixe ferver os legumes com a cebola e o alho. Tempere ainda mais com as especiarias de cajun.
Derreta a manteiga na panela onde o camarão fritou e polvilhe com a farinha.  Misture tudo até engrossar, virar um creme.
Dissolva o creme com o caldo de galinha e mexa até obter um molho espesso. Tempere o molho com mais especiarias cajun e pimenta em pó.
Adicione a linguiça, camarões e legumes cozidos. Tempere com sal e o suco de limão.
Sirva uma porção de arroz em um prato com o gumbo. Termine o prato com algumas folhas de salsa e um quarto de limão.

Até ao próximo post!