Belo

Estou a ler Claraboia, de José Saramago, e encantada sobre a forma como ele descrevia os inquilinos de um prédio, e como ele construía os diálogos.

Várias vezes em minha mente vinha a vontade de ter esse talento. Um sonho! Não sei se é algo nato, ou se é possível trabalhar para chegar a esse nível de maestria, ou próximo, que tinha Saramago.

Destaquei para esse post um trecho curto de seu livro. Uma obra que foi escrita em 1953  sob o pseudônimo Honorato. Um Saramago ainda diferente do que aprendemos a conhecer, mas a genialidade já estava lá.

No fim do post trago outro genial, Roy Orbison. Nem lembro mais como nasceu essa paixão pelo trabalho do Roy. Lembro que não foi com Oh, Pretty Woman.  A Love So Beautiful tem muito de mim. É uma música que sempre me emociona.

“— Por que será que a palavra «belo» custa tanto a dizer? — perguntou Isaura, sorrindo.
  — Não sei — respondeu a irmã. — O certo é que custa. E, vendo bem, devia ser como qualquer outra. É fácil de dizer, são só quatro letras… Também não percebo.
Tia Amélia, ainda chocada pela sua incapacidade de há pouco, quis esclarecer:
— Percebo eu. É como a palavra Deus para os que creem. É uma palavra sagrada.”

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

O ritual do chá

Tenho feito uma leitura curiosa sobre o livro de Muriel Barbery, A elegância do ouriço. Além de escritora, ela também é professora de filosofia na França. Esse “detalhe” talvez explique juntar uma zeladora culta, um personagem japonês que desperta curiosidade, um crítico de gastronomia, uma adolescente observadora, todos convivem num prédio de um bairro elegante em Paris. A filosofia e suas reflexões sobre o tempo, a vida e a morte, vem em forma de romance com um elegante humor.

“O ritual do chá, essa recondução exata dos mesmos gestos e da mesma degustação, esse acesso a sensações simples, autênticas e requintadas, essa licença dada a cada um, a baixo custo, de se tornar um aristocrata do gosto, porque o chá é a bebida tanto dos ricos como dos pobres, o ritual do chá, portanto, tem essa virtude extraordinária de introduzir no absurdo de nossas vidas uma brecha de harmonia serena. Sim, o universo conspira para a vacuidade, as almas perdidas choram a beleza, a insignificância nos cerca.”
(A elegância do ouriço, Muriel Barbery, pág. 83 da versão Epub)

Eu trago neste post um trecho do romance. De sobra vem o vídeo do escoceses Belle and Sebastian.

Agradeço a leitura e até ao próximo post!

A comunicação muda

O que nos salva da solidão é a solidão de cada um dos outros. Às vezes, quando duas pessoas estão juntas, apesar de falarem, o que elas comunicam silenciosamente uma à outra é o sentimento de solidão.

Clarice Lispector, em Aprendendo a Viver

Lendo as crônicas escritas por Clarice Lispector e reunidas no livro Aprendendo a Viver deparei-me com o trecho acima, daí lembrei da música Modern Loneliness do artista americano Lauv, que canta a solidão moderna.

Até ao próximo post!

Decisões

Abril chegou com muito frio e neve na Bélgica. Aliás, Abril é conhecido, por estas bandas, por trazer em um mesmo dia um pouco de tudo que um clima reserva. Também em Abril, estou lendo um livro maravilhoso, e espero, em breve, escrever sobre essa leitura. Para já trago a fala de um dos personagens, e em seguida o vídeo da música Everything da cantora canadense Alanis Mororissette.

Cada vida contém muitos milhões de decisões. Algumas grandes, algumas pequenas. Mas cada vez que uma decisão é tomada em detrimento de outra, os resultados são diferentes. Ocorre uma variação irreversível, o que, por sua vez, leva a outras variações…

(A biblioteca da meia-noite, Matt Haig, pág. 270, versão epub) 

Agradeço a leitura e até ao próximo post.

Novo slogan político

“Alguém escreveu num muro branco da Universidade do Porto, em Portugal, a sua exigência política: “Queremos mentiras novas!”. … Mentiras velhas são um desrespeito à inteligência daqueles a quem são dirigidas. Que mintam, mas que respeitem a minha inteligência! Mintam usando a imaginação! Por isso escrevia, em nome da inteligência, do possível e do humor: “Queremos mentiras novas!””.
(Ostra feliz não faz pérola, Rubem Alves, pág.16, versão Epub)

Para acompanhar este trecho do livro citado acima trago Linger do grupo irlandês The Cranberries. Sua vocalista, Dolores O’Riordan, partiu desta vida no início de um mês de Janeiro.

Agradeço a sua leitura e até ao próximo post!

O rosto

Este trecho extraí da leitura recente do livro O Olhar da Mente, do neurologista Oliver Sacks. A intenção é trocarmos impressões, concordar ou discordar, ou até mesmo acrescentar.
Eu vejo todos os dias muitos rostos, entre 80 a 160 rostos, uma contagem por alto. Muitas vezes pego-me a tentar decifrar as suas emoções. Um passatempo parecido como estar na fila de um supermercado que não tem self-caixa e, discretamente, tentar perceber os hábitos alimentares das pessoas, quem sabe até a sua religião ou origem.

É com o rosto que defrontamos o mundo, do instante do nascimento até o da morte. Nele estão impressos nossa idade e sexo. Nossas emoções, as indisfarçadas e instintivas, sobre as quais Darwin escreveu, assim como as reprimidas, que foram descritas por Freud, revelam-se no rosto juntamente com pensamentos e intenções. (…) E é fundamentalmente pelo rosto que podemos ser reconhecidos como indivíduos.
(O olhar da mente, Oliver Sacks, pág. 89, versão Epub)

Há muitos vídeos com rostos. Eu escolhi este vídeo por gostar das músicas do português David Fonseca, em Só Depois, Amanhã há muitos rostos. Uma homenagem às filarmónicas portuguesas, no caso a de Marrazes, em Leiria (Portugal). Terra do cantor, e também onde nasceu o meu primeiro filho.

Até ao próximo post!

A arte da dança 

“Contarei o milagre mas não contarei os santos. Não lhes pedi permissão. Eram um lindo casal de brasileiros que faziam estudos avançados na Universidade de Lovaina, Bélgica. Convidaram-nos para uma recepção e lá foram eles elegantemente vestidos. Música. Danças. Dançavam eles no salão quando notaram que os outros casais paravam de dançar e formavam uma roda ao seu redor, todos a olhar para eles. Pensaram: devemos estar dançando muito bem. Aí capricharam nos passos para não desapontar a platéia até que a música terminou. Ao se aproximarem de um professor amigo ele lhes disse com um divertido sorriso: “É a primeira vez que vejo um casal dançando o hino nacional da Bélgica…”

(Ostra feliz não faz pérola, Rubem Alves, pág.18, versão Epub)

Então vamos conhecer o motivo de tão animada dança. 🙂 O hino da Bélgica em suas línguas oficiais: holandês (De Brabançonne), alemão (Die Brabançone) e francês (La Brabançonne).

Até ao próximo post!

Coreia do Norte

“Atualmente, nos documentos oficiais da Coreia do Norte o uso da palavra comunismo é extremamente raro ou nulo. Encontra-se com frequência a palavra revolução e algumas vezes, poucas, a palavra socialismo. B. R. Myers escreveu em The Cleanest Race que não saber que a Coreia do Norte é um país nacionalista é como não saber que o Irã é um país islâmico.”

(Dentro do Segredo, José Luís Peixoto, pág. 92, versão Epub)

Para acompanhar esse trecho do livro do português José Luis Peixoto trago a cantora da Coreia do Norte Ri Kyong-Suk que faz parte do grupo Pochonbo Eletronic Ensemble também da Coreia do Norte. Ela canta Lambada, em português!

Agradeço a sua leitura e até ao próximo post.