6 On 6: Anatomia dos Passos

Andar olhando para o chão, ou melhor, onde se pisa, pode revelar as mais diversas situações e pode nos causar os mais diversos sentimentos. Vou mais longe, pode também ser um campo de estudo, a anatomia dos passos.

Lembro quando um par de décadas atrás, eu caminhava na cidade que vivia e vi no chão fotos de um casamento. Imediatamente senti a dor de uma tristeza. Provavelmente, vestígios do fim de um casamento, a revelação de uma raiva, o prazer de magoar o outro. As minhas pegadas daquele dia já não estão naquele pedaço de chão, mas elas ficaram na anatomia da minha memória. O dia que olhei para o chão e descobri a dor de um fim. Não valia a pena tirar uma foto. Outros momentos valeram tirar uma foto…

Quando eu andava no centro histórico de Edimburgo, e por acaso, os meus passos levaram-me até uma pedra com letras no chão. Foi uma pegada histórica.

Não gosto muito de entrar em igrejas, mas entro porque sei que lá posso encontrar o silêncio e tesouros artísticos. Desta vez, eu estava em Saint Omer e os meus pés estacionaram sob uma placa em mármore negro com a imagem de um religioso e palavras em latim. 

Os meus passos buscavam descanso para o corpo. Havia uma pedra para sentar, descubro um ser vivo que buscava atenção entre tantos outros iguais em Istambul.

Eu andava perdida na Serra do Gerês, mas eu não estava sozinha. E havia “alguém” mais que parecia perdida, a salamandra perdida. Ainda bem que eu olhava para o chão naquela noite de céu estrelado.

Aqui para cima da Linha do Equador vive-se o Outono em sua plenitude. Folhas e mais folhas caem ao chão, mas todas elas deixaram a beleza daquele cogumelo vir à tona.

De segunda a sexta vou para o trabalho, e em alguns dias, sem perceber, ligo o “piloto automático”, e chego na empresa. A cabeça dá uma volta em tantos pensamentos que não sei como cheguei lá, mas sei que estou no trabalho ao olhar para o chão da garagem, e lembro para onde irei hoje. Volto à realidade, e lembro que hoje é dia de 6 On 6.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

Participam do projeto: Claudia LeonardiLunna GuedesMariana GouveiaObdulio Ortega

Subir a Serra Amarela em Gêres (Portugal)

Parecia que o hiking seria fácil, apenas 10,9 km e o máximo de 946 m de elevação.  O dia estava lindo. O percurso foi escolhido utilizando a app Wikiloc: Serra Amarela – Ermida + Bilhares + Martinguine + Viduak.

A cada curva a natureza revelava todo o seu encanto, e a trilha sonora era o som de pequenas cachoeiras.

Até que se chegou à Branda de Bilhares. O que parecia ter sido uma pequena aldeia que vivia do pastoreio e cultivo, sobretudo no Verão.

Pelo caminho ainda avistamos várias cachoeiras. A água era bastante fresca. E a subida seguiu em bom ritmo.

Até que alcançamos o topo da trilha escolhida. Por algum tempo exploramos os pequenos detalhes da natureza. Não podíamos passar muito tempo. O pôr do Sol era por trás de uma colina e começava a arrefecer. Tínhamos que ser rápidos. 

Em princípio uma descida era para ser fácil, mas na prática não foi isso que aconteceu. O caminho revelou uma vegetação não indicada no aplicativo. Muitos degraus em pedra que à medida que se aproximava do riacho tornavam-se escorregadios. Erramos o caminho, sofremos com a vegetação cerrada do caminho errado. Já pensávamos em passar a noite por ali, molhados até ao joelho devido a travessia do riacho que não era necessária. Não seria prudente. Seguimos. Logo veio a noite, os celulares se aproximavam do fim da bateria.

O meu silêncio na volta foi notado pelo meu filho mais velho que passou a caminhar colado a mim. A sua sensibilidade tinha razão. Era um mal sinal que eu emitia sobre o meu limite mental. A condição física estava boa, mas a mental sofria. 

antes da descer a Serra Amarela

Reencontrar Bilhares foi um alívio.  Faltava “pouco”. O céu à noite era lindo. Na Bélgica não vejo a beleza de tantas estrelas e constelações.

Cada momento era precioso, e assim, na descida não houve fotos. Apenas um vídeo caseiro às escuras. Já no caminho correto e sem obstáculos, essa foto foi o único registro. Uma respeitosa salamandra que atravessava o caminho.

E o vídeo que fiz da subida…

Até ao próximo post!