Um dia de pequenas coincidências

Coincidências em mais um dia na Bélgica, entre o nublado e o chuvoso. A sorte é que é fim de semana e não tenho compromissos com horários. Sobram as coincidências inesperadas.

Eu estava lendo a vencedora de um dos prêmios José Saramago, a Adriana Lisboa, em Os Grandes Carnívoros, mas eu não estava a gostar da escrita, e não percebia onde ela queria chegar. Titãs começou a sussurrar ao meu ouvido “só quero saber do que pode dar certo”. Próximo(a)! :))

Escolhi ao calhas em minha lista de livros a serem lidos. Cheguei a outra premiada (coincidência), desta vez, o prêmio Jabuti, Natalia Borges Polesso, em Controle. Estou ainda muito no início, mas a gostar muito do seu estilo, e já percebi, sutilmente, onde ela pretende chegar com o romance dividido em contos, vagueando na vida da adolescente Maria Fernanda, seus amigos, pais, escola e parentes distantes. Tudo se passa nos anos 80 com várias menções a trechos de músicas do New Order. Uma banda (coincidência) que eu gostava muito de ouvir nos anos 80. Menções também a objetos que surgiram nos anos 80 como o discman Aiwa, passando por fones de ouvidos, etc. Enfim, objetos que também passaram por minhas mãos (coincidência). 

Coincidência, que eu ando a seguir uma série de ficção alemã chamada Dark (Netflix) que tem se tornado muito interessante aos meus olhos, e que também há ligação com os anos 80. 

Fim de semana não me levanto da cama sem ler um pouco. O dia nublado/chuvoso que eu espreitava entre as cortinas tornou-se ensolarado após ler uma passagem do livro. Eu dei uma boa gargalhada. Coisas de adolescentes. Então, eu lembrei de algo engraçado que passei nos mesmos anos 80.

Eu fui toda orgulhosa ao centro de Recife, sozinha, comprar uma blusa para mim com o dinheiro que eu havia ganho por vencer um concurso de desenho para uma campanha publicitária da disciplina de Segurança no Trabalho. Eu estava no início do da escola secundária. Estava difícil encontrar algo que eu gostasse. Entrei nas lojas Marisa, rua da Imperatriz. E o meu orgulho de estar sozinha fazendo uma compra no centro logo foi abaixo. Não havia ninguém para me dar uma opinião. Se fosse nos tempos atuais, eu tiraria uma foto e enviaria para alguém me dizer se ficaria bem em mim. Indecisão e insegurança deve ser algo do meu signo gêmeos. Cansei, e peguei a “blusa” menos má. Não ia voltar para casa sem o meu troféu. Eu nem prestei atenção no desenho que eram uns rabiscos em preto sobre a cor entre o azul e verde. No dia seguinte vesti-a e fui para escola. Ouvi um comentário. Bem, se eu fosse um rapaz teria ficado de tronco nú na hora, ou vestido-a pelo avesso, mas eu era uma mocinha bem comportada. Alguém na escola disse: Silvana, passaste a gostar do Culture Club? Inclinei a cabeça para o rabisco em preto que eu trazia. Olhei bem. Pô, o meu troféu era o Boy George! Eu andava farta de ouvir Karma Chameleon. :))

Bem, eu continuei a usá-la na mesma. Passado algum tempo o meu “troféu” virou pano de chão. 

Então, vem mais uma coincidência desta manhã atual… Eu leio ouvindo música, e quem toca ? Culture Club. Olha, que é raro tocar música deles! Só que esta música, eu já não me recordava, e simplesmente, adorei. Imediatamente, adicionada à minha playlist. Uma canção impecavelmente interpretada pelo Boy George com uma letra que evoca as profundezas de um relacionamento amoroso quando o que ama torna-se vulnerável quando se devota completamente a alguém sabendo as consequências do risco, das cicatrizes (coincidência). Mais uma coincidência de fim de semana, porque fiz mais duas “cicatrizes” na minha orelha. E ando como se fosse um dia ensolarado com os meus 3 troféus em cada orelha. Porque o 3 é um número especial na matemática. E isso não é coincidência. 😉
Um bom início de semana!

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

O Entardecer em Istambul

Organizando fotos para o post do último projeto fotográfico 6 on 6, Sunset, encontrei várias fotos deste momento que acontece todos os dias, porém um deles foi muito especial.

Há muito desejava conhecer Istambul, e uma das atrações da cidade é o seu entardecer. Olhos postos em direção a Kiz Kulesi (Torre da Donzela) com séculos de história, torre símbolo de Üsküdar, obra do período bizantino, quando Istambul ainda era Constantinopla. Aos poucos iam se aproximando as pessoas, turistas ou não, e buscavam o melhor ângulo, a maneira mais confortável de se estar às margens do Bósforo.
Sentei-me sob uma das enormes pedras que margeiam parte da promenade. Aos poucos, o espetáculo iniciava. O quase silêncio das pessoas para o astro contrastava com o cântico que soava dos minaretes. O que será que toda aquela plateia internacional pensava?
Pensei no pequeníssimo trecho que Jorge Luís Borges escreveu em Elogio da Sombra (1969):

“É sempre comovente o pôr do sol
por indigente ou berrante que seja,
mas ainda bem mais comovedor
é o brilho desesperado e derradeiro
que enferruja a planície
quando o último sol ficou submerso.”.

E aos poucos o céu enferrujava…

Terminado o espetáculo, levantei-me, enquanto ouvia vários idiomas ao meu redor. Já na promenade de Istambul, o movimento era intenso. De repente, um carro vintage descapotável se aproximava em meio ao trânsito, jovens, aparentemente nativos, ouviam em alto som uma música dos anos 80, que nos contagiou, rimos bastante, e caminhamos por entre as ruas da Istambul Oriental cantarolando… Cheri cheri lady there’s no tomorrow. Um entardecer que ficará para sempre em minha memória. Perfeito dia de Verão.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post! 😉

Os monumentos, Lisboa

A última ida a Lisboa deu para sentir que a cidade não é mais a mesma de quando a conheci.
Encontrar tantos tuk tuk deixou-me confusa. Será que desembarquei no Sudeste Asiático? São engraçados, práticos, mas há qualquer coisa que não combina.
A exploração do mercado imobiliário também veio favorecer esse olhar sob uma nova Lisboa.
O que não mudou, e mesmo assim, continuam atraentes são os seus monumentos. Estive tantas outras vezes a olhá-los, mas, desta vez, o olhar está mais maduro, sem pressa, e captou detalhes de suas grandiosidades artísticas. Cá entre nós, Lisboa é mesmo bela!

A música perdeu ontem um monumento francês, Françoise Hardy, aos 80 anos. Quando ela fez sucesso, eu não era nascida, isso foi no início dos anos 60. Em 2023, a revista americana Rolling Stone divulgou um ranking das 200 melhores cantoras de todos os tempos, e ela foi a única representante da França. Há quem defenda que a música francesa perdeu o seu prestígio após o sucesso dos Beatles. É uma possibilidade. Uma certeza é que o estilo melancólico e doce de Françoise Hardy ficará para sempre em nossa memória.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post! 😉

Marvin Gaye, em Oostende (Bélgica)

Hoje, 1 de abril de 2024, fazem quarenta anos da morte do cantor de soul americano, Marvin Gaye.  
Algumas de suas músicas estão sempre presentes em minha playlist.
Sempre tenho a curiosidade de saber como surgiu a letra de uma canção que gosto. Hoje descobri que um dos maiores sucessos de Marvin Gaye, “Sexual Healing”, foi composta aqui na Bélgica, em Oostende (litoral). 

Fotos de The Brussels Times

Era 14 de fevereiro de 1981 quando ele atracou de barco em Oostende, sua vida não corria bem com o fim do segundo casamento, luta contra a dependência em drogas e dívidas, apesar de seu sucesso com Grapevine.  
Ele ficou em casa de uma família amiga belga onde viveu como uma pessoa comum. Em agosto de 1982 teve que partir devido a problemas de visto. No casino da cidade há uma estátua de Marvin Gaye ao piano. Em 1 de abril de 1984 foi morto por seu pai após mais uma forte discussão.

Agradeço sua leitura e até ao próximo post! 😉

Um pouco de cultura neerlandesa a caminho dos moinhos

Uma ida para conhecer o encantador Kinderdijk acaba-se por também mergulhar em um pouco mais da cultura holandesa.
Enquanto estive na área do Kinderdijk passaram por mim várias bicicletas. Os holandeses, assim como os belgas, têm o gosto por pedalar. Essa bicicleta com publicidade de um famoso ketchup conquistou-me. Paixão à primeira vista registrada em foto. No momento, lembrei de minha Caloi vermelha que citei em um dos posts 6 on 6.

Caminhar pelas ruas de Alblasserdam, cidade que abriga o Kinderdijk, renderam olhares para os mais diferentes klompen, os famosos tamancos em madeira tipicamente holandeses. Eram calçados, em madeira, ideais para os terrenos lamacentos quando o couro era um produto inacessível para agricultores ainda na Idade Média.

Mais uma vez, tanto nos Países Baixos como na Bélgica, há uma certa tradição de no local onde está o número da casa também há o primeiro nome de todos que vivem na casa. Algumas vezes está apenas o nome da família, ou ainda, o nome de família de cada membro do casal. Particularmente, agrada-me, pois dá-me uma sensação de sólido, de para sempre. Infelizmente, algumas vezes o para sempre, sempre acaba.

Ainda a caminho do Kinderdijk ouvi a música que representará os Países Baixos no Eurovision 2024. E foi mais um momento de conhecer algo mais sobre a cultura deste país. A música tem o ritmo Hakken, que significa calcanhares, ou saltos altos, ou ainda o verbo cortar. É um ritmo criado pelo DJ Darkraver de Haia, uma forma de rave dance ligada a uma sub cultura, os gabbers, nos anos 90. Haja energia e bons tamancos!

Agradeço sua leitura e até ao próximo post!

Música em alemão

Viver na Bélgica possibilita o contato com 3 idiomas oficiais: holandês, francês e alemão. Talvez, por isso, tenho a possibilidade mesmo que rara de ouvir alguma música em alemão.

Os estudantes, na Bélgica, têm esses idiomas como disciplinas obrigatórias. Esta semana ouvi uma música dos anos 80 que muitos devem conhecer a sua versão em inglês, mas poucos devem tê-la ouvido na sua versão original em alemão. Aliás, os anos 80 foi rico em músicas que fizeram sucesso em idiomas que não apenas o inglês.

Particularmente, gosto mais da versão em alemão. Acho que dá um toque ainda mais futurístico para a música. O título Völlig losgelöst também soa mais especial que o Major Tom em inglês. 🙂

Vou deixar aqui sua versão em alemão e outra com a letra em 3 legendas.

Até ao próximo post!